Com orçamento apertado, Exército quer gastar R$ 4 milhões com game

Enquanto o Ministério da Defesa alerta para o risco de sucateamento das Forças Armadas por falta de verba, o Exército Br..

Enquanto o Ministério da Defesa alerta para o risco de sucateamento das Forças Armadas por falta de verba, o Exército Brasileiro aprovou o gasto de R$ 3,9 milhões para fazer um game.

O Missão Verde-Oliva, cuja existência foi revelada pela Folha de S.Paulo há um ano, visa popularizar os militares entre os jovens consumidores de jogos eletrônicos, um mercado de 76 milhões de pessoas que movimenta quase R$ 10 bilhões por ano no país.

Questão de prioridades à parte, há um problema adicional: o valor, que é o dobro do que a Defesa gastou com apoio à presença brasileira na Antártica e equivale ao aplicado em pesquisa aeroespacial em 2020, não é suficiente para fazer um produto viável.

“A sensação é de que o investimento é um risco enorme. Não há como construir um jogo com qualidade gráfica realística AAA Call of Duty é muito caro. Um America’s Army, similar ao buscado pelo Brasil, é um pouco mais barato, mas ainda é extremamente caro. Cerca de R$ 15 milhões seria suficiente, talvez, para construir a base de um jogo”, diz Freitas.

O America’s Army custou mais de R$ 200 milhões em dez anos, a partir de seu desenvolvimento iniciado em 1999. Um game AAA, no jargão do mercado, como o problemático o Cyberpunk 2077, teve um orçamento de desenvolvimento de US$ 314 milhões (quase R$ 1,5 bilhão).

“Até se você pensar no America’s Army como carro-chefe de comunicação, antes dele vieram inúmeras iniciativas, como patrocínio de filmes e eventos esportivos. No Brasil, o Exército ainda não soube lidar ao menos com os memes”, avalia o chefe da Kokku.

Tradicionalmente, Força Aérea e Marinha têm os programas mais caros na Defesa. Em 2020, investimentos representaram apenas 7,4% dos R$ 108 bilhões gastos, com quase 80% despendidos com pessoal, segundo dados do sistema de acompanhamento orçamentário do Senado.

O programa do Exército com maior execução orçamentária em 2020 foi o dos blindados Guarani, que recebeu R$ 304 milhões.

Em ofício enviado ao Ministério da Economia no dia 10 passado, o titular da Defesa, general da reserva Walter Braga Netto, afirmou que a recomposição do orçamento militar é vital para evitar o sucateamento das Forças Armadas.

No fim de maio, a Força Aérea sentiu o baque. Anunciou que foi obrigada a cortar de 28 para talvez 13 ou 16 o número de cargueiros KC-390 comprados da Embraer, em uma renegociação que ainda está em curso.