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EUA, Reino Unido e China se provocam com novos exercícios militares

Em uma nova escalada de tensões militares no entorno estratégico chinês, Washington, Londres e Pequim se enfrentam com p..

Em uma nova escalada de tensões militares no entorno estratégico chinês, Washington, Londres e Pequim se enfrentam com provocações na forma de exercícios navais nesta semana.

Os palcos são os de sempre: o estreito de Taiwan, que separa a ditadura comunista da ilha democrática que os chineses consideram ser uma província rebelde, e o contestado mar do Sul da China, onde Pequim diz ser dona de 85% das águas.

Na segunda-feira (26), o grupo de ataque liderado pelo novo porta-aviões britânico, o HMS Queen Elizabeth, chegou ao mar do Sul da China. Acompanhado por oito outras embarcações e carregando 18 aviões de caça avançados F-35B, ele irá se exercitar na região pelos próximos dias.

É uma provocação direta aos chineses, acostumados a ver navios americanos e de aliados de Washington como Japão e Austrália, na região. Também incorpora uma declaração política dupla.

Primeiro, Londres quer mostrar ao mundo que voltou a ter capacidades navais ofensivas, por mais que o programa de construção do navio de R$ 21 bilhões seja considerado insustentável no médio prazo por alto custo operacional por alguns analistas.

Segundo, os britânicos mostram que estão ao lado dos EUA na Guerra Fria 2.0 contra a China. Um destróier da frota e 10 dos 18 F-35B são americanos.

Londres está particularmente contrariada pela repressão exercida por Pequim contra Hong Kong, sua ex-colônia. Avalia que Pequim rasgou o tratado de 1984 que acertou a devolução de 1997 com garantias de liberdades por 50 anos.

A reação de Pequim, que considera Hong Kong um assunto interno, foi determinada nesta quinta (29), com a realização imediata de dois exercícios navais na região ao mesmo tempo.

O risco, como sempre nesses casos, é de que as forças se cruzem de forma inadvertida ou águas costeiras sejam trespassadas.

No mês passado, a Rússia deu tiros de advertência contra um dos navios da frota do Queen Elizabeth, que se destacou para um exercício perto da Crimeia anexada por Moscou em 2014.

Segundo um centro de estudos da Universidade de Pequim, os EUA têm crescido suas ações para asseverar que as águas do mar do Sul da China são internacionais, com 3 operações em 2016, 4 em 2017, 5 em 2018, 8 em 2019 e 9 em 2020.

No outro ponto nevrálgico da região, o estreito de Taiwan, a provocação veio inicialmente da China, incomodada com o vaivém de aviões militares americanos na ilha para trazer autoridades em visita.

Além das usuais ações com aviões militares para testar a capacidade de reação dos caças taiwaneses, um evento quase semanal e crescente neste ano, Pequim aumentou o número de exercícios navais com simulação de desembarque anfíbio e conquista terrestre.

É um recado claro de intenções. Embora analistas sejam reticentes sobre a real intenção da ditadura de invadir Taiwan, dado que isso poderia levar a uma guerra com os EUA, que protegem por acordo a ilha, o objetivo de Pequim é relembrar que isso é possível.

Alguns especialistas, por outro lado, creem que o treinamento é para valer. Chama a atenção um levantamento feito pelo jornal honconguês South China Morning Post, segundo o qual houve 9 exercícios do tipo em 2019, 15 em 2020 e 7, até aqui neste ano.

O último foi divulgado pela TV estatal CCTV na terça (27), e foi particularmente detalhado: uso de drones, ataques com mísseis e desembarque de tropas executadas pelas forças baseadas em Xiamen, no sudeste da China.

A reposta então foi americana, que enviou um destróier da classe Arleigh Burke, que emprega mísseis de cruzeiro e é o esteio de sua força naval, para o estreito de Taiwan na quarta (28).

O USS Benfold fez o chamado trânsito da região, que no seu ponto mais estreito tem 130 km de largura, sem incidentes. Duas semanas atrás, ele fez um exercício semelhante perto das ilhas Parcel, que os chineses passaram a militarizar em 2014 e que são reclamadas por Pequim, Hanói e Taipé.

Nesta quinta, veio o usual protesto do Comando do Teatro Oriental das Forças Armadas chineses, dizendo que a passagem é uma provocação que mira “destruir a paz”, num trocadilho com o tipo do navio, um destróier (destruidor, contratorpedeiro na definição naval mais obsoleta).