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Lula discursa a milhares na Paulista e diz esperar sinal de Bolsonaro para transição

Lula discursa a milhares na Paulista e diz esperar sinal de Bolsonaro para transição

Em seu discurso de vitória, na Av. Paulista, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva também voltou a prometer o restabelecimento do Ministério da Cultura

Folhapress - segunda-feira, 31 de outubro de 2022 - 01:25

Diante de milhares de apoiadores na avenida Paulista, em São Paulo, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na noite deste domingo (30) que espera um sinal do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), para que a transição de governo seja feita.

“Estou metade alegre e metade preocupado porque a partir de amanhã tenho que começar a me preocupar em como a gente vai começar a governar o país”, disse Lula em cima de um trio elétrico. “Preciso saber se o presidente [Bolsonaro] vai permitir a transição.”

Em discurso enfático, o líder petista criticou o atual governo e voltou a afirmar que o resultado deste domingo representa uma vitória da democracia.

“Essa não é uma vitória minha, não é uma vitória só do PT, essa foi uma vitória de todas as mulheres e homens que querem a democracia, a liberdade, um país mais justo. Essa vitória é de todos homens e mulheres que resolveram libertar esse país do autoritarismo”, afirmou.

Mais cedo, no primeiro discurso após ser eleito, Lula agradeceu a todos os que votaram neste domingo e prometeu encontrar uma saída para o país voltar a ter paz e viver democraticamente. O líder petista falou em diálogo com o Congresso e o Judiciário.

TER MEDO DA CULTURA É TEMER A LIBERDADE, DIZ LULA

Em seu discurso de vitória, na avenida Paulista, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltou a prometer o restabelecimento do Ministério da Cultura no país.

“Eu quero que vocês saibam que vamos recuperar o Ministério da Cultura e vamos criar comitês estaduais de cultura para que a cultura se transforme numa coisa a que todo mundo tenha acesso, para que a cultura se transforme numa indústria de produzir emprego e de gerar renda”, ele disse.

Numa fala que rebate o combate à cultura que esteve no cerne do governo Bolsonaro, com a desidratação da Lei Rouanet, tentativas de censura em editais públicos e um discurso de ódio à cultura, incendiado pela guerra cultural encampada por apoiadores do atual presidente, Lula comparou o respeito à cultura ao respeito à democracia.

“Quem tem medo de cultura é quem não gosta do povo e não gosta de liberdade, é quem não gosta de democracia, e nenhuma nação do mundo será uma verdadeira nação se não tiver liberdade cultural. O país vai recuperar a sua cultura.”

DISCURSO DE LULA FORTALECE COALIZÃO

Primeiro discurso de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito presidente neste domingo (30), fortaleceu a perspectiva de um governo de coalizão, com um futuro mais estável para o Brasil. Essa foi a leitura dos economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real.

Historicamente, os dois são economistas liberais associados ao PSDB, mas que abriram o voto em favor de Lula no segundo turno das eleições. Ao final da contagem dos votos, ambos utilizaram a palavra “alívio” para definir como receberam o resultado do pleito.

“Alívio, alívio, alívio; esperança, esperança, esperança Foi um belo discurso”, disse Bacha.

“Tudo no discurso foi muito bom, mas especialmente o início, em que ele diz que não foi uma vitória do PT, mas da aliança democrática. A menção direta a Simone [Tebet] aponta para o futuro.”

Tebet, do MDB, foi a terceira candidata mais votada no primeiro turno e contou com apoio de Bacha em sua campanha. A candidata apoiou Lula no segundo turno e existe a expectativa de que integre o novo governo.

Textualmente, Lula disse em seu discurso que “esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora.”

Bacha foi um dos integrantes informais dessa coalizão. Ao abrir o voto em Lula no segundo turno se declarando preocupado com o destino da democracia em caso de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), cuja postura de confronto, especialmente com o STF (Supremo Tribunal Federal), é vista como um risco à democracia.

Arminio Fraga teve a mesma percepção. “A vitória [de Lula] foi um grande alívio, e o discurso foi inspirador, completo, de imenso alívio, e que espelha uma atitude construtiva de união com busca de convergência”, afirmou Arminio. “Eu diria que ele se superou.”

O discurso de Lula destacou em particular a importância da democracia, fator que Fraga também considerou crucial quando optou em abrir o voto em favor do petista.

“É assim que eu entendo a democracia. Não apenas como uma palavra bonita inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele, e que podemos construir no dia-dia”, afirmou o eleito. “E é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar -como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar desigualdades.”

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