Ministro mente em fala na COP26 e conquista 2º antiprêmio do Brasil

Em discurso de cerca de cinco minutos no chamado segmento de alto nível da COP26, conferência climática que tenta fechar..

Em discurso de cerca de cinco minutos no chamado segmento de alto nível da COP26, conferência climática que tenta fechar as regras do Acordo de Paris, o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Leite, mentiu sobre as metas de redução de gases poluentes apresentadas em Glasgow.

O ministro disse que o país anunciou metas climáticas “ainda mais ambiciosas”. Na verdade, o governo Bolsonaro havia piorado as metas em 2020, na comparação com o que havia prometido em 2015, e, na COP, corrigiu em parte esse recuo.

A correção não foi suficiente para elevar a quantidade de gases poluentes que o Brasil pretende cortar, segundo cálculos do CAT (Climate Action Tracker), principal coalizão de análise climática do mundo.

“Sob Bolsonaro, todos os números de clima e meio ambiente do país retrocederam. O desmatamento e as emissões nacionais cresceram de forma consecutiva. O mundo já não acredita em mais nada que seja dito por este governo”, afirmou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima (rede de dezenas de entidades ambientalistas), após o discurso do ministro.

Outra declaração de Leite foi criticada por entidades ambientalistas e de direitos indígenas: “Reconhecemos também que onde existe muita floresta também existe muita pobreza”.

A frase foi usada como argumento para defender os planos do governo de “promover o desenvolvimento sustentável” na Amazônia, por meio de um mercado de serviços ambientais.

“Diversos estudos nos últimos 20 anos têm mostrado que não existe ligação entre floresta e pobreza”, afirmaram integrantes do Observatório do Clima em seu blog.

Eles citam três estudos que indicam que, na realidade, é o desmatamento que está ligado à pobreza. Um deles é trabalho clássico de 2004, em que pesquisadores do Imazon mostraram que, apesar de um aumento inicial do IDH, regiões desmatadas sofrem uma piora substancial e duradoura dos indicadores após o esgotamento dos recursos.

Outros levantamentos recentes vão na mesma direção: o Índice de Progresso Social da Amazônia, de 2018, mostrou que não existe correlação entre desmatamento e melhora de indicadores socioeconômicos, e cinco dos municípios mais desmatados da Amazônia em 2020 (Lábrea, Feijó, Jacareacanga, Anapu e Pacajá) estão na lista dos municípios com menor Índice de Progresso Social.

Essas e outras afirmações contestadas do discurso e um estudo mostrando que o Brasil elevou os subsídios para combustíveis fósseis em 25% de 2019 para 2020, chegando a US$ 22 bilhões, fizeram o país receber sua segunda menção nesta COP do antiprêmio Fóssil do Dia, concedido pela Climate Action Network, que reúne mais de cem entidades climáticas.

O presidente Jair Bolonaro havia conquistado o Fóssil da Semana “pelo tratamento horrível e inaceitável aos povos indígenas”, após criticar a ativista Txai Suruí, que no dia 2 discursou em Glasgow para dezenas de líderes mundiais, entre eles o premiê britânico Boris Johnson.

Entre outras declarações de Leite desmentidas no discurso desta quarta (10) estão as de que as ferrovias planejadas no Brasil “representam uma redução de 75% das emissões do transporte de carga”.

Segundo a checagem do Observatório do Clima, mesmo que todas elas sejam um dia construídas, representariam menos de 10% do total de movimentação de carga (e de emissões de transporte de carga) do país.

A afirmação de que quase 28 milhões de hectares de pastagens degradadas foram restauradas pela “agricultura de baixo carbono” também foi questionada, por incluir nessa área pastagens que são jovens demais para terem sido degradas.

Levantamento da coleção 6 do projeto MapBiomas mostra que, embora 17 milhões de hectares tenham sido recuperados desde o ano 2000, do total de 113 milhões de hectares, no mesmo período o país ganhou mais 41 milhões de hectares de pastagens, 47% das quais já apresentavam sinais de degradação em 2020.

Para a Climate Action Network, as declarações do ministro parecem pertencer a um colonizador do século 18 e confirmam o caráter ilógico e perigoso das justificativas do governo brasileiro.