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Senado tem pior índice em aprovação de projetos em duas décadas

Senado tem pior índice em aprovação de projetos em duas décadas

Em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, o Senado encerrou suas atividades em 2020 com o menor índice de apr..

Folhapress - segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021 - 11:48

Em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, o Senado encerrou suas atividades em 2020 com o menor índice de aprovação de projetos em quase duas décadas. Os parlamentares deliberaram sobre 383 matérias e aprovaram 204 -o que corresponde a 53,2% do total.

Embora a quantidade de projetos apreciados tenha se mantido estável -um leve aumento em relação ao ano passado os últimos anos foram marcados por índices de propostas aprovadas na Casa de 60% ou mesmo acima de 70%.

Neste século, apenas em 2001 o índice havia sido pior, quando a quantidade de projetos rejeitados foi superior aos aprovados. Senadores creditam a redução no índice de aprovação de projetos em 2020 ao sistema remoto de deliberação, adotado por causa da pandemia do novo coronavírus.

Embora tenha sido a solução para evitar a propagação do vírus, os congressistas relatam que a falta de contato presencial afetou a articulação para a votação de projetos.

Além disso, as atividades das comissões foram interrompidas. Com isso, foram reduzidas algumas instâncias de debates e votações dos pareceres de relatores, o que facilita a análise em plenário.

Com apenas o plenário virtual em funcionamento, houve uma concentração de poderes nas mãos do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP).As condições permitiram que o comandante do Senado tivesse ainda mais controle sobre a decisão da pauta legislativa, além de poder escolher os relatores em plenário.

As comissões apenas funcionaram em momentos específicos, como no esforço concentrado no fim do ano, para a aprovação de indicações de embaixadores para postos diplomáticos ou de nomes para as agências regulatórias.

“Sem a atuação das comissões permanentes, o trabalho fica precarizado. Nós deixamos de abordar exaustivamente o tema, o foco dos projetos. E, especialmente nas matérias que não diziam respeito ao combate à Covid, o debate era absolutamente pobre e a forma de pautar matérias de um grande grau de autoritarismo”, afirmou o senador Esperidião Amin (PP-SC).

Opinião parecida tem Rogério Carvalho (PT-SE), líder do PT, que concorda que a pauta legislativa foi muitas vezes elaborada de maneira atropelada, durante a vigência da pandemia.

No entanto, afirma que a pauta conseguiu mesmo assim contemplar os diversos partidos e grupos de interesse. “É fato que houve um atropelo da pauta durante esse ano. Mas é preciso ressaltar que a pauta acabou contemplando todos os partidos e forças dentro do Senado”, afirmou Carvalho, que é considerado próximo a Alcolumbre.

Um dos projetos rejeitados pelos senadores foi a proposta de regulamentação do novo Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), que havia sido aprovada na Câmara. Tratou-se de uma derrota para o governo Bolsonaro.

Os senadores votaram contra as mudanças de última hora que haviam sido feitas pelos deputados federais, que previam o repasse para escolas religiosas, filantrópicas e comunitárias, que poderiam atingir até R$ 12,8 bilhões de recursos da rede pública.

De todos as propostas aprovadas no ano passado, 51 foram propostas de autoria do Poder Executivo -o que corresponde a 25%, índice mais alto dos últimos anos. Apenas para efeitos de comparação, em 2019, 11% das matérias aprovadas tinham sido enviadas pelo Palácio do Planalto.

Na divisão por assuntos, a maior parte das matérias aprovadas no ano de 2020 está relacionada com os temas sociais, como acontece em praticamente todos os anos. Estão compreendidos nesse tema as questões relacionadas à saúde.

No entanto, não houve propriamente um aumento na porcentagem das propostas sociais, em relação ao total aprovado.

Por outro lado, o segundo tema com mais projetos aprovados no ano de 2020 foi relacionado à economia –quando normalmente os assuntos jurídicos costumam ser mais apreciados e aprovados.

Nesse ano, por causa da pandemia e da adoção do isolamento social, o Senado e a Câmara dos Deputados deliberaram temas como o auxílio emergencial para trabalhadores informais, a redução da jornada de trabalho e a suspensão de contratos e a criação do Pronampe, programa de crédito para microempresas e empresas de pequeno porte.

Aproveitando o sistema remoto, também foram aprovados dois projetos de interesse da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia): a nova lei de falências e o projeto de autonomia do Banco Central.

Questionado sobre as acusações de “tratorar” a pauta legislativa, Alcolumbre afirmou que apenas levou à votação propostas que já tinham consenso para apreciação.

“A pandemia chegou na metade da minha gestão à frente do Parlamento. Uma situação atípica, assustadora e emergencial, que exigiu medidas e providências enérgicas e excepcionais”, afirmou Alcolumbre por meio de sua assessoria de imprensa.

“Em um ano atípico, ressalto que o Senado implementou o inédito sistema de deliberação remota, modelo para os demais Parlamentos do mundo, e aprovou, com a urgência necessária, o Programa de Enfrentamento ao Coronavírus, matéria que fui relator, bem como as medidas provisórias do auxílio emergencial aos trabalhadores informais, além de liberar recursos para a compra de vacinas contra a Covid-19.”

O senador afirmou ainda que recebe as críticas “com serenidade”. “Mas também com a consciência tranquila de que fiz o meu melhor”, completa.

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