Pedro Ribeiro

 

Faltando apenas quatro meses para as eleições no país, há evidências sobre o crescimento da influência do dinheiro em mais este processo, com o perfil do financiamento eleitoral se concentrando em grandes doadores. A avaliação é do analista político, Bruno Carazza, da Fundação Dom Cabral, que esteve esta semana em Curitiba.

Autor do livro “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro”, Carazza, explicou que, embora, não seja tão perceptível, o poder econômico influi em todo o processo. Um dos exemplos é a distribuição desigual dos Fundos Eleitoral e Partidário que desequilibra o jogo eleitoral.

Na Associação do Ministério Público do Paraná, o professor lembrou que “em 2018, os 413 deputados federais ganharam, em média, 16 vezes mais recursos do que o candidato comum”. Entre as mulheres, quem mais recebeu recursos foram filhas, esposas e ex-mulheres de políticos tradicionais. “Uma candidata negra novata recebeu mais de 20 vezes menos recursos dos fundos partidários e eleitoral do que um deputado federal branco buscando a reeleição em 2018”.

Sobre as eleições deste ano, Carazza considera que “independentemente de quem seja o próximo Presidente da República, muito provavelmente o Centrão será mais forte e mais coeso a partir do ano que vem, dificultando o rompimento dessa estrutura”.

Ao fazer uma avaliação sobre a interferência do empresariado nas eleições, o professor da Dom Cabral lembrou que a corrupção campeia no país e há longos anos.

Trinta anos depois do escândalo dos Anões do Orçamento, em que políticos manipulavam emendas parlamentes visando desviarem o dinheiro através de entidades sociais fantasmas ou com a ajuda de empreiteiras, ainda vivemos a volta de grandes esquemas de corrupção”, disse.

Para ele, o curioso é que, basicamente a lista de empresas e de políticos envolvidos nos escândalos de corrupção continua a mesma que figurava no esquema conhecido como Anões do Orçamento. Mesmo assim, os crimes de colarinho branco, vem caindo ano a ano, segundo dados de prisão da Polícia Federal.

Tentamos (no Café com Letras) trazer temas indiretos a nossa atividade e o Bruno conseguiu mesclar uma série de assuntos que têm relação com o exercício da nossa função. Estamos num ano eleitoral, é muito importante tratarmos sobre esse assunto que, com certeza, trouxe mais subsídios aos colegas que atuam na área eleitoral”, afirmou o presidente da APMP, André Tiago Pasternak Glitz.