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Nem a troca do secretário de Segurança Pública repercutiu nesta quarta-feira, 27, como a fala do deputado Homero Marchese, cuja declaração em tom machista, fez levantar da cadeira as cinco deputadas que reagiram de imediato, bem como o deputado Luiz Cláudio Romanelli que classificou a postura de vergonhosa.

“A prática é o critério da verdade”, disse o deputado Luiz Claudio Romanelli (PSD) nesta quarta-feira, 27, ao contestar as declarações classificadas como machistas e misóginas do deputado Homero Marchese (Republicanos). O deputado do MBL repudiou a criação da Bancada Feminina e a ampliação da participação de deputadas na mesa executiva do parlamento estadual.

“Me sinto envergonhado com a posição defendida pelo deputado. Estamos no século 21 e ainda precisamos conviver com pessoas com pensamento tão retrógrado”, afirmou Romanelli, acrescentando que a sociedade brasileira tem feito um grande esforço para garantir a abertura de espaços de poder para as mulheres. “O posicionamento dele, na verdade, é absolutamente incondizente com o modelo de República que estamos construindo”.

Romanelli ressaltou que o universo político no Brasil ainda é muito desigual e o legislativo do Paraná não pode concordar com atitudes misóginas. “A vida da gente é feita de posicionamentos. Eu sou um feminista”, ressaltou. “Tenho posição a favor da maior participação das mulheres na vida pública. Desprezo as posições machistas e seguirei brigando por mais espaço das mulheres na política”.

O deputado do PSD disse que a Assembleia Legislativa é um exemplo da baixa participação feminina no setor público e que é necessário reverter este quadro. “As mulheres são maioria na sociedade, mas minoria nos espaços de poder. Basta ver que dos 54 parlamentares  que temos apenas cinco mulheres”, apontou. “A nossa proposta é, como fizeram o Senado e a Câmara Federal, formalizar a bancada feminina e valorizar os posicionamentos das mulheres”.

Na tribuna do legislativo, Romanelli disse que Marchese deveria pedir desculpa para as mulheres ao invés de tentar esconder suas atitudes questionando procedimentos do legislativo. Citando Aristóteles e preceitos gregos de democracia e igualdade, considerou que o deputado do MBL é adepto do “Argumentum ad hominem”. “É um tipo de falácia que se caracteriza quando determinada pessoa responde a um argumento com críticas negativas ao seu autor e não ao conteúdo apresentado”.

Deputadas criticam falas machistas do deputado Homero Marchese

As cinco deputadas estaduais do Paraná responderam e criticaram  nesta quarta-feira, 27. as declarações misóginas e machistas do deputado Homero Marchese (Republicanos) contra a criação da bancada feminina na Assembleia Legislativa.

A deputada Luciana Rafagnin (PT) disse que a política ainda é um espaço masculino e destacou a necessidade de mudar o conceito machista que impede as mulheres de ocupar cargos na política e de participar dos debates nas Câmaras e Assembleias.

“Precisamos fazer com que as mulheres mudem esse pensamento e venham fazer a nova política. A nova política é feita com espaço para todos. Quando a mulher está na política ela defende a paz, justiça e a igualdade”, afirmou ao defender a aprovação da resolução que cria a bancada feminina e reserva um espaço para mulheres na mesa diretora do legislativo estadual.   

A parlamentar classificou ainda a declaração de Marchese como “violência política”. “A gente vem de uma cultura que ainda oprime, massacra e mata mulheres. Sofremos violências de várias formas: física, psicológica, moral, patrimonial, sexual e também a violência política”, afirmou. “Não entender a criação da bancada feminina porque somos minoria é violência contra as mulheres”, frisou.

A deputada Cantora Mara Lima (Republicanos) explicou que o projeto buscar “dar uma guinada no reconhecimento às mulheres na Assembleia” e “garantir a participação nas decisões da Casa”. 

“O que a gente quer é trabalhar junto, em igualdade para melhor condução da Assembleia”, pontuou a deputada que preside a Comissão de Direitos e Defesa das Mulheres.

Parlamentar no terceiro mandato, Mara Lima disse que muitas mulheres deixam de se candidatar por falta de apoio. “Enquanto isso não for natural, temos que achar condição para que as mulheres sejam reconhecidas”.

A deputada Cristina Silvestri (PSDB), que também é a procuradora da mulher da Assembleia, salientou que o projeto faz uma reparação histórica no Paraná e segue o que já está sendo feito na Câmara Federal e no Senado. “O projeto vem para reparar uma demanda histórica da participação da mulher na política. Queremos ser protagonistas”.

Cristina classificou de infeliz a fala do deputado Homero Marchese.  “A mulher não está em pé de igualdade. A mulher não tem a mesma visibilidade que os homens. Queremos que os nossos filhos e netos cresçam em uma sociedade justa e fraterna”.

A deputada Maria Victoria (PP) disse que iniciativas que buscam direitos iguais permitem o avanço de políticas públicas de qualidade. “Não poderia me calar como mulher e como parlamentar. Minha luta é pela equidade de gênero”.

A jovem parlamentar lembrou que o Brasil ocupa apenas o lugar 142 na lista de 191 de países da Organização das Nações Unidades em representação feminina na política. “Aqui somos apenas cinco em 54 deputados estaduais”, enumerou.

A deputada também destacou o caráter inovador da proposta assinada pelas cinco deputadas. “A Assembleia Legislativa do Paraná é a primeira Assembleia a propor a criação de uma bancada feminina. Teremos a oportunidade na participação na tomada de decisões da Casa”.             

Maria Victoria ainda agradeceu a Mesa Executiva da Assembleia Legislativa por se posicionar para “defender e valorizar as mulheres na Casa e na política”. A mesa divulgou uma nota na noite de terça-feira (26) reprovando as declarações do deputado Homero Marchese.

INSPIRAÇÃO – A deputada estadual Mabel Canto (PSDB) afirmou que não concorda com falas que desabonem o trabalho de inclusão das mulheres. “Difícil é chegar aqui e mais difícil é se manter”, pontuou.

Primeira deputada eleita nos Campos Gerais em 200 anos, Mabel disse que o aumento de representatividade feminina na Assembleia busca inspirar mais mulheres a participar da política. 

“Infelizmente muitas mulheres não se sentem à vontade e nem tem confiança para estar no meio político. Esse trabalho que vem sendo feito de mudanças, de garantir representatividade é importante. Precisamos, acima de tudo, inspirar mais mulheres a estar aqui”.