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Governo joga responsabilidade da inflação aos empresários supermercadistas

Governo joga responsabilidade da inflação aos empresários supermercadistas

Presidente Bolsonaro faz apelo ao setor alimentício para que reduzam margem de preço da cesta-básica para conter a inflação.

Pedro Ribeiro - sexta-feira, 10 de junho de 2022 - 10:53

 

Desesperado com a escalada inflacionária no país, o presidente Jair Bolsonaro (PL) faz um patético apelo aos empresários setor de abastecimento para que colaborem um pouco mais e reduza a margem de lucro sobre produtos da cesta básica.

“Então o apelo que eu faço aos senhores, para toda a cadeia produtiva, é para que os produtos da cesta básica, cada um, obtenha o menor lucro possível”, disse, acrescentando saber que a margem de lucro já vem baixando, mas pedindo que seja ainda mais reduzida.

O presidente queixou-se, sem citar nomes, dos que fazem “afirmações não verdadeiras” que o colocam como o responsável pela alta da inflação.

O presidente devia, também, fazer uma mea-culpa em relação ao avançado estágio da fome no país e, ao invés de lamber os sapatos e se curvar diante do Centrão, promover um grande programa para auxiliar as pessoas excluídas e passando fome.

Como bem disse o senador Oriovisto Guimarães (Podemos) o presidente Bolsonaro tenta criar subsídio para combustíveis e deixa o povo passando fome.

Aproveitamos para publicar artigo do jornalista Alceo Rizzi, que faz uma análise sobre a questão inflacionária, lembrando do governo José Sarney que queria confiscar os bois no pasto. A seguir:

Moribundos de fogo

Alceo Rizzi

Chega a ser patética a manifestação de desespero e admissão implícita de perda de controle  da inflação e da Economia do País quando um presidente e um ministro responsável pela área pede para que empresários do setor de varejo não reajustem preços na venda de seus produtos pelos próximos três meses.

Chega a lembrar aquela cena,  hoje de mais percebida comicidade e desespero de 40 anos atrás,  quando o  acidental presidente José Sarney, assentado na cadeira após  a morte, antes de assumir,  do titular, Tancredo Neves,  andou criando seus chamados fiscais e confiscando bois nos pastos para conter a alta geral e descontrolada dos preços dos produtos.

Os chamados fiscais do Sarney, tentativa de linha auxiliar de uma política econômica de fracasso que se reconhecia,  e que seguia rumo ao desfecho do desastre, da fome e do desespero.

Período de inflação fora de controle, numa perda ainda mais acentuada de poder na renda dos brasileiros  do que no período da cruel, inepta e criminosa ditadura militar, com  milhões submetidos à miséria absoluta, nos mesmos índices proporcionais ao que há se registra  hoje no País com esse governo.

Por ironia debochada, o então presidente, com pretensões literárias, tenta mais tarde compensar sua memória, esquecer amargas lembranças, sem relação com o que aconteceu, e escreve o romance “Marimbondos de Fogo”,  que lhe serve para ingresso na imortal,  descompromissada e difusa Academia Brasileira de Letras (ABL).

O que dizer agora de um sujeito com a mentalidade delinquente expressa em atos a que todo dia se assiste,  com agravamento do domínio doentio de comportamento de estupidez e violência instintivas  a sobrepor improváveis lapsos de qualquer racionalidade?

O que poderia  ser feito em melhor definição a não ser tomar empréstimo  o título do livro do grande romancista maranhense e   fazer trocadilho, ainda que fácil  sobre um presidente, um Ministro da Economia e um governo que vão seguindo  aos pedaços com forçada fleuma agressiva e dissimulada pompa de controle de alguma circunstância.

Os “Moribundos de Fogo”, versão do trocadilho vulgar e, ao que parece,  justo por merecimento.

Alceo Rizzi é jornalista e escritor

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