Pedro Ribeiro
(Foto: Ricardo Duarte/Internacional)

 

Alceo Rizzi

A hipocrisia é instituição constituída no País cartorial e patrimonialista, acima de qualquer outra afirmação montesquiana, uma veleidade na sua configuração de República. Executivo nomeia ministro do Judiciário com o compromisso de atendê-lo em suas demandas, sejam sob aspectos institucionais ou pessoais, em cultura de reciprocidade, pelo que se infere no histórico de comportamentos.

Agora, um ex-presidente tem anulado, por falta de provas, processo em que era apontado como ancorado réu em portos de seu destino, por decisão de Ministro da Alta Corte para ela e por ele nomeado, ex- integrante de sua equipe de governo. Antes dele, outro ministro do Judiciário, também em decisão monocrática, concede liberdade a quem lhe deu empregos e abrigos antecedentes em várias casas, civil e civilizadamente.

Mais recentemente, outro concede liberdade para realização de cultos religiosos em meio a uma pandemia, na mesma troca de gentilezas, em reconhecimento à sua nomeação para cargo de toga.

Outro, em espécie de arrependimento tardio, concede a seu patrono a anulação de processos em que estava incurso e que até resultou em condenação e prisão. Não se trata de julgar méritos de processos sobre culpas ou inocência, eles sempre existem dos dois lados, dependendo ao qual se esteja vinculado, por dever de ofício ou simpatia. Verdades nunca são absolutas por esta ótica. Mas, trata-se de coincidência recorrente, ainda que no mérito se reconheça certo sentimento de gratidão. Mas nem ela, nem as decisões, fazem parte de um Contrato Social na definição de Rousseau, nem ao escopo montesquiano de separação e independência dos poderes. Somos talvez, apenas uma tribo, sem a cultura e valores de ancestralidade. Jamais uma República.

 

Alceo Rizzi é jornalista