Daiana Allessi

No dia 07 de janeiro comemora-se o dia do leitor, uma data dedicada aos apaixonados por literatura e livros e que desfrutam das mais fantásticas viagens e experiências sem levantar da poltrona.

A criação do dia do leitor é uma homenagem ao poeta e jornalista Demócrito Rocha, fundador do jornal cearense “O Povo” em 07 de janeiro de 1928, periódico popular pelo combate ativo à corrupção e por ser um espaço de divulgação do movimento modernista literário da época. 

Contextualizando a data, afirmo sem hesitação, sobre a importância de ler.  Adotar a leitura como um hábito é optar pelo desenvolvimento de habilidades de interpretação, de comunicação e de sensibilidade para consigo e para com os outros. É se permitir adentrar o mundo da imortalidade das histórias, contos, poesias e relatos que ano após ano resistem em um mundo cada vez mais digital e menos literário.

Porém, ao refletir sobre o valor de um Leitor ou Leitora não consegui dissociar meu raciocínio acerca da magnitude do ato de escrever, pois, se temos leitores é porque temos pessoas que aceitam o desafio de eternizarem suas ideias no papel, em um blog ou coluna, desde que a intenção do escrito seja de repartir conhecimento e assim produzir cabeças pensantes e não apenas lacrar com frases caóticas e sem embasamento.

E tenho sorte de estar cercada de pessoas maravilhosas possuidoras de cérebros que vibram em uma frequência muito acima da média, e que me incentivam a seguir e ser melhor a cada passo da jornada. E por isso, me senti estimulada a questionar uma amiga brilhante e que é uma mulher inspiradora sobre o motivo que a impulsiona a escrever. Conversei com a Mariana Bazzo, promotora de justiça do Ministério Público do Paraná e autora de livros jurídicos.

Questionada sobre o porquê escreve, Mariana respondeu que se trata de uma perpetuação e organização dos conhecimentos adquiridos pelo exercício profissional e pelos seus estudos acadêmicos. Frisou que a escrita para ela, sobretudo na área jurídica, é uma maneira de continuar seu ativismo pela proteção de mulheres, crianças e adolescentes e reafirmar a condição de sujeito de direito destas pessoas que em um passado bem recente não recebiam respeito nem proteção jurídica ou social.

Essa perspectiva de mulheres escritoras é muito rica e sinaliza uma mudança de paradigmas sociais, e então questionei Mariana sobre os sentimentos que ser uma escritora causam. Ela respondeu que é profundamente maravilhoso escrever e que a insegurança foi um dos sentimentos experimentados por ela.

Prosseguiu dizendo que é bastante difícil dar publicidade ao conhecimento e as opiniões (principalmente no campo do direito das mulheres) e que se considera uma mulher de sorte por ter recebido o apoio de outras mulheres escritoras, como Alice Bianchini, Silvia Chakian e Tarcila Santos Teixeira (coautoras de seus livros).  Enfatizou que juntas protagonizaram uma verdadeira troca de afetos, conhecimentos e sororidade na empreitada de escrever.

Segundo Mariana Bazzo, o ato de formalizar a produção de suas experiências geradas na intimidade de seus estudos e pensamentos foi superado pela proatividade e pela iniciativa de concretizar o sonho de multiplicar conhecimento. 

Exalto e enalteço essa jornada de mulheres escritoras. Falo de todas as mulheres que escrevem, pois isso tem muito a ver com sobre todas e cada uma de nós! Em um mundo construído para invisibilizar as mulheres, escrever e publicar torna-se um ato de resistência, de pura demonstração de competência e de afirmação do valor feminino no mundo.

Ser leitor (a) é se permitir ampliar sua cultura, descobrir fatos e histórias não contadas e sobretudo, prestigiar a coragem e a relevância do ser escritor (a). São as escritoras e escritores que possibilitam que o conhecimento e a história sejam transmitidos e imortalizados, não obstante a passagem dos anos. Tornam-se responsáveis pela mudança do paradigma social, seja pelo fomento da fantasia, do lazer ou do conhecimento e não há leitores sem os escritores.

Assim, torna-se impossível agradecer e homenagear a cada leitor e leitora pelo seu dia sem mencionar a importância dos escritores e escritoras, que na coluna dessa semana foram muito bem representados pela Mariana Bazzo (e coautoras), mulheres que sob uma perspectiva de gênero e contra-hegemônica elevam a importância e o valor das mulheres, crianças e adolescentes.

Parabéns a todas (todos) e a cada um (a) de nós pelo nosso dia! E que que venham muitas mais Nísias, Virginias, Marias Firminas, Marianas, Alices, Silvias, Tarcilas, Clarices, Lygias, Conceições, Cecílias, (…) e que esta lista não tenha fim!


Daiana Allessi é mãe, esposa, advogada, professora e pesquisadora sobre gênero e direitos das mulheres.

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