Atleta transplantado de Curitiba conquista dois bronzes em mundial
O evento é um dos maiores do mundo voltado a pessoas transplantadas ou doadores de órgãos. Ramon Lima, de 41 anos, se destacou nas provas de corrida
Um atleta de Curitiba garantiu dois bronzes no World Transplant Games 2023, na Austrália. O evento, que neste anos ocorreu entre os dias 15 e 21 de abril, é um dos maiores do mundo voltado a pessoas transplantadas ou doadores de órgãos. Ramon Lima, de 41 anos, se destacou nas provas de corrida de 1.500 m e 800m. Ao todo, 25 medalhas foram conquistadas por atletas brasileiros.
Professor de Educação Física, Ramon descobriu a insuficiência renal crônica há 11 anos. Passou pela diálise peritoneal (processo que “substitui” a função dos rins), ficou cerca de um ano na fila esperando por um transplante e em janeiro de 2020 recebeu a ligação de que um rim compatível o esperava. Mas os desafios pós-cirúrgicos também. “Precisei superar limites e medos. Só depois de conhecer atletas transplantados é que percebi a minha capacidade para percorrer o caminho do esporte, que já fazia parte de mim”, revela.
Ramon faz parte da Liga de Atletas Transplantados do Brasil, que busca fortalecer o elo entre pessoas que passaram por transplantes de órgãos e seguiram praticando atividades físicas. Mais do que isso, o grupo também trabalha pela ampliação da divulgação e sensibilização da sociedade sobre o tema. “Vi no esporte uma maneira de mostrar a importância da doação de órgãos e desmistificar a ideia de que transplantado é alguém com muitas restrições e que não pode se exercitar.”
ESPORTE PELA SAÚDE DE TRANSPLANTADOS
Alexandre Tortoza Bignelli, nefrologista e coordenador do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Cajuru, destaca que a prática de atividade física é benéfica em casos de transplantes. “Os transplantados que se exercitam ficam internados menos tempo, podendo voltar mais rápido ao trabalho e à vida social, o que reflete em mais qualidade de vida”, conta. O médico acompanha o caso de Ramon desde o início e afirma que as atividades físicas podem funcionar como um “remédio”.
A prática de exercícios fez o atleta redescobrir sua paixão pelo esporte e despertar para o desejo de colecionar ainda mais medalhas. Um mito que o atleta busca quebrar com a participação em jogos é sobre as restrições esportivas para transplantados. “Sempre pratiquei esportes. Mas, a partir da descoberta dos jogos voltados ao público que recebeu um órgão, senti ainda mais vontade de competir e mostrar que os transplantados têm condições físicas de disputar eventos esportivos. Hoje, não vejo meu dia a dia sem atividade física, e sem pensar em como melhorar a divulgação da doação de órgãos”, acrescenta Ramon.
O número de pessoas com doença renal crônica triplicou na última década, no Brasil. Hoje, estima-se que 13 milhões de pessoas convivam com a doença e mais de 140 mil façam diálise no país. No mundo, calcula-se que 850 milhões têm algum comprometimento renal.