Agronegócio
Biocarvão de café recupera solo contaminado com metais pesados

Biocarvão de café recupera solo contaminado com metais pesados

Incorporados ao solo, o material se mostra eficiente também na redução na melhoria da qualidade da terra

Mirian Villa, com assessoria - quinta-feira, 31 de agosto de 2023 - 09:43

Uma pesquisa do IAC (Instituto Agronômico), em parceria com a Embrapa, revelou que dois tipos de biocarvão de café se mostram eficientes na redução de contaminação por metais pesados no solo. 

O material pode ser extraído a partir da cadeia do café, borra (resíduo gerado na produção de café solúvel) e pergaminho (gerado na despolpa úmida do café). Incorporados ao solo, se mostraram eficientes na redução de contaminação por metais pesados e na melhoria da sua qualidade. 

De acordo com os pesquisadores, os resultados referentes aos níveis de cálcio, cobre, carbono orgânico e atividade das enzimas desidrogenase e protease foram utilizados como base para calcular um IQS (Índice de Qualidade do Solo), permitindo avaliar os impactos dos biocarvões. 

A amostra de solo com biocarvão de pergaminho de café apresentou o IQS mais elevado, porém ambos conseguiram reduzir a concentração de metais no solo, contribuindo para a melhoria de sua qualidade.

Sobre a pesquisa

O experimento estendeu-se por 90 dias e até esse momento, havia uma compreensão limitada sobre do uso do biocarvão para a melhoria da qualidade do solo, mensurada por meio do IQS.

Segundo Cristiano Andrade, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, a qualidade do solo refere-se à sua capacidade de desempenhar funções, como o suporte a produção vegetal e a regulação do fluxo de água no ambiente, importantes para o equilíbrio do ecossistema. 

Dessa forma, índices de qualidade podem ser pensados no sentido de combinar variações em atributos do solo e medida de desempenho de uma ou mais funções no ambiente. Isso vem sendo tratado pela equipe na evolução das pesquisas.

As atividades enzimáticas, por exemplo, desempenham papel crucial na ciclagem de nutrientes e, por conseguinte, na manutenção da fertilidade do solo. A enzima desidrogenase é particularmente importante nos processos bioquímicos, pois está ligada à oxidação da matéria orgânica. Já a enzima protease está envolvida no ciclo do nitrogênio no solo. 

O teor de cálcio está estreitamente relacionado à produção agrícola, especialmente em solos tropicais, que são naturalmente ácidos e apresentam níveis insatisfatórios de nutrientes. O cobre, embora seja um micronutriente, pode tornar-se tóxico em concentrações elevadas.

Na obtenção do IQS, a abordagem para as enzimas é “quanto maior, melhor”, uma vez que estão relacionados à ciclagem de nutrientes e, consequentemente, ao desenvolvimento das plantas. Para o cobre, a abordagem é de “faixa desejada de teores”. Nesse último caso, prejuízos à qualidade do solo ocorrem para valores menores ou superiores aos limites da referida faixa para o cobre. 

De acordo com Ruan Carnier, um dos desenvolvedores da pesquisa como aluno de doutorado do IAC, a atividade da enzima desidrogenase alcançou pontuação muito baixa em todos os tratamentos, com valores abaixo do limite estabelecido. “Sendo uma enzima intracelular, explica Carnier, ela reflete diretamente a atividade dos microrganismos e é altamente sensível a mudanças. Assim, neste estudo, a reduzida atividade da enzima foi principalmente atribuída à toxicidade dos metais presentes no solo”.

Os biocarvões utilizados são alcalinos, explica Carnier. “Quando adicionados ao solo, os biocarvões elevam o pH do meio o que consequentemente reduz a disponibilidade de metais pesados. Além disso, os biocarvões tem caracteristicas especificas como porosidade e grupos funcionais na sua superfície, o que contribui para a absorção de metais pesados, reduzindo a disponibilidade no solo”.

O trabalho completo pode ser acessado aqui.

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