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Aroldo Murá

O vereador Renato Freitas é um imoderado verbal, tem de ser reeducado. Mas não merece ser colocado na fogueira de um julgamento. Antes, a Câmara tem de examinar o ICI, os R$ 600 milhões “colhidos” dos aposentados para pagar asfaltos, a proposta de aumentar descontos do funcionalismo…

 

A Câmara de Curitiba indica que vai julgar o vereador Renato Freitas (PT), autor, supostamente, de quebra da ética que deve reger as ações dos parlamentares da Casa. Teria usado de linguagem inadequada em suas falas ao se referir a pastores, chamando-os, genericamente, de “picaretas”.

Uma fala lamentável, a propósito de examinar a relação de religiosos pastores com dinheiro público em ações sociais…A proposta do julgamento até corresponde a um grande avanço no universo dos “varadores” – como eram chamados os antigos vereadores.

A Câmara promete partir para uma “disputatio pública”, quando donos de lógica e eloqüência poderão se expor e contribuir para o aperfeiçoamento da Casa. Por dever de ofício, acompanho razoavelmente o andar da carruagem da Câmara de Curitiba, na atual legislatura.

Numa rápida avaliação – e sujeito a correções – o que percebo é que alguns vereadores eleitos em 2020 chegam com muita gana, boa parte deles parece não estar disposta ao entrar na procissão do “yes, man” às exigências do alcaide, ou às pressões pessoais do líder do prefeito na Casa.

Até porque, tudo indica, recusam o jogo antigo que a Câmara pratica, de decênios de anos, o da docilidade diante do prefeito em favor de prebendas e cargos de altos salários a seus indicados. Foi assim, sei, desde os tempos do prefeito Ney Braga, o modernizador do Paraná.

A mim me chamam atenção nomes como os de Indiara Barbosa (Novo), Carol Dartora (PT), Letícia (PV), Flávia Francischini (PSL) dessa nova leva de legisladores, além, claro, do moço cheio de energias sem medidas e, por vezes, com enormes impropriedades lingüísticas, que é o Renato Freitas, do Partido dos Trabalhadores. Quatro vereadores, pelo menos, sentiram-se gravemente ofendidos por discursos de Renato Freitas (e também por postagens em suas redes sociais), em que teria cometido o crime de discriminação religiosa.

Classificou pastores (generalizando) de “picaretas” o que, opino, não significa discriminação religiosa. Mas imoderação verbal e erro crasso de um legislador que não sabe separar joio do trigo. Sobre o assunto discriminação religiosa, tema que estudo há dezenas de anos, particularmente em movimentos religiosos cristãos, sou dos que acreditam que só há Democracia onde se vive o livre pensar. Esse livre pensar inclui obrigatoriamente o direito de cultos religiosos existirem com plena liberdade.

Curioso, para mim, foi observar o comportamento de uma veterana vereadora, professora Josete (PT), examinando a fala nada polida do vereador Renato Freitas. Ela, em linha gerais, pediu que a Casa entenda que o jovem petista, “negro e vindo da periferia” , tem de ter seu comportamento justificado. Ou compreendido. A vereadora petista, que tem 57 anos e se diz próxima dos 60, não aplaude mas também não condena seu correligionário, a quem, espera-se, ela venha a colocar sob uma saudável tutoria centrada em bons modos e linguagem adequada. Be-a-bá da educação. Dito isso, explico: sou contra punições a Freitas.

Não advogo que o coloquemos em “centros de reeducação”, como regimes marxistas da URSS, China e Coréia do Norte colocaram e colocam tantos chamados dissidentes. Padres e pastores foram as maiores vítimas desses centros. Acolher o jovem inquieto e imoderado verbalmente é o melhor caminho. Ele haverá de entender, sob a pedagogia das boas maneiras, que o parlamento de uma capital como Curitiba tem compromisso com a Palavra, a partir do qual tudo se julga. Palavra pode matar ou dar vida.

Se há padres, pastores, rabinos, sheiks, médiuns e mães-de- santo que não honram compromissos de gerenciar recursos públicos, que Freitas os denuncie, parte do papel para o qual foi eleito. Sempre levando em conta que o ônus da prova cabe ao acusador. Mas, por favor, senhores vereadores, não deem à locomaquia de Freitas importância maior do que ela tem.

Porque se transformarem a Câmara num “grande júri”, a cidade poderá, ao mesmo tempo, insistir na cobrança nunca respondida de questões, que a comprometem, como exigir que o prefeito explique como e a quanto aplicou dos R$ 600 milhões que a Prefeitura retirou do Fundo de Aposentadoria do IPMC. Dizem que pagou a orgia de asfalto pré-eleições.

O dinheiro do IPMC é apenas um ponto de uma ampla agenda de obsequioso silêncio com que a Câmara se porta em relação ao prefeito…. Um dos exemplos é privatização de UPAs, a presença açambarcante do ICI na vida da cidade, o aumento das alíquotas de descontos dos funcionários municipais pretendida pelo alcaide…Esses são temas que, sim, merecem a instalação de um “grande júri” na Rua Barão do Rio Branco. Merecem uma fogueira.

 

 

Aroldo Murá é jornalista