Economia
Campos Neto diz que tomou ‘puxão de orelha’ por fala do rotativo do cartão de crédito

Campos Neto diz que tomou ‘puxão de orelha’ por fala do rotativo do cartão de crédito

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, esteve em Curitiba para participar do Fórum de Gestão Empresarial promovido pela Faciap.

Angelo Sfair - sexta-feira, 11 de agosto de 2023 - 13:37

O presidente do Banco Central disse que levou um “puxão de orelha” ao antecipar a possibilidade do fim dos juros rotativos do cartão de crédito. Roberto Campos Neto disse nesta sexta-feira (11) que a proposta deve ser apresentada em breve. 

“A gente não tem os detalhes ainda, eu tomei um puxão de orelha depois que eu falei, mas a gente deve, nos próximos dias, ter um formato mais decidido. Estamos fazendo isso junto com o Ministério da Fazenda, os técnicos do Banco Central, bancos e associações interessadas”, disse.

Técnicos do Banco Central e do Ministério da Fazenda discutem com os bancos formas de reduzir os juros considerados abusivos encontrados no mercado, que chegam a 800% nessa modalidade.

Em Curitiba, onde participou de um evento promovido pela Faciap, Campos Neto comentou que 40% das vendas feitas pelo comércio são por meio do cartão de crédito. O número é muito acima da média de países emergentes, que gira em torno de 10% a 15%.

O presidente do Banco Central defendeu que sejam encontradas soluções que resolvam o problema dos juros abusivos sem desestimular o consumo.

“A gente precisa entender que o problema foi gerado por uma concessão grande de cartões, por um tema que tem um parcelamento sem juros que aparentemente não tem custo, mas obviamente alguém paga o custo no fim. A gente precisa achar um equilíbrio entre isso e é super difícil. O comércio fala que preciso do parcelado sem juros porque estimula a compra. Do outro lado, se nada for feito e a gente começar a ter um colapso na indústria de cartão de crédito, vai ter uma queda muito grande de vendas”, explicou.

Sobre os juros básicos da economia brasileira (taxa Selic), Roberto Campos Neto afirmou que o Banco Central trabalha com a tese de que o processo inflacionário no país iria desacelerar em “dois degraus”.

 Segundo ele, os dados atuais ainda estão “poluídos” pelas desonerações promovidas no final da gestão de Jair Bolsonaro (PL) sobre os combustíveis e setor elétrico. Por isso, ele diz que espera uma “dupla desancoragem” da inflação para promover cortes mais significativos na Selic

“A gente precisa que os agentes econômicos tenham a percepção que o fiscal vai estar equilibrado. Com esse fiscal, a gente consegue fazer o trabalho de convergência de inflação com taxas de juros mais baixas e sustentáveis de forma, digamos assim, mais equilibrada e mais duradoura”, pontuou.

Na última reunião do Copom, o Banco Central cortou a Selic em meio ponto porcentual, de 13,75% para 13,25%, acima da expectativa do mercado. 

Em fala direcionada aos empresários do Paraná, Campos Neto minimizou a importância da taxa básica de juros para o acesso ao crédito mais barato: 

“No mercado futuro, a taxa de juros já está sendo precificado a 9,5%. Já existe um processo de queda de juros embutido e quando alguém pede dinheiro emprestado vai ser baseado nesse juros futuro”.

Por fim, ele voltou a defender que o processo do corte de juros aconteça como em um “pouso suave”. O presidente do Banco Central afirmou que a instituição vai continuar a perseguir a meta de inflação para não perder a credibilidade.

“O grande desafio agora é conseguir gerar credibilidade que a gente vai conseguir estabilizar o processo de dívida e que a gente vai conseguir fazer um processo de ancoragem da expectativa de inflação para ter um juros mais baixo e mais estável”.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, esteve em Curitiba para participar do Fórum de Gestão Empresarial promovido pela Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná).

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