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Cem Dias Sem Governo

Cem Dias Sem Governo

Não há, no momento, na minha visão, a busca por uma nova ordem social que venha, efetivamente beneficiar a camada mais fina da sociedade

Pedro Ribeiro - quarta-feira, 10 de maio de 2023 - 11:28

 

Tenho acompanhado esses pouco mais de 100 dias do Governo Luiz Inácio Lula da Silva e não vi, ainda, raciocínios que não fossem rasos e grosseiros. Permanecem como pautas instrumentos de vingança, tentativas de flagelar, alinhando, perfilando e mobilizando tropas de choque para repercutir suas ações e opiniões.

Não há, no momento, na minha visão, a busca por uma nova ordem social que venha, efetivamente beneficiar a camada mais fina da sociedade, como o prometido. Uso, também, aqui, os recorrentes alertas do senador paranaense, Oriovisto Guimarães, sobre o retrocesso na condução da política econômica. “Não ouvi ainda este governo falar em economizar. Sé em gastar”, pontuou o senador.

O raciocínio e a voz do senador tem respaldo na sociedade produtiva paranaense, principalmente junto ao agronegócio que continua acorda, na entrada da porteira, temendo um surpresa, ou seja, uma invasão de terras. As incertezas são muitas, mas como ainda não temos seis meses de governo, vamos usar o oxigênio deste país grande, desta terra fértil na esperança de que as luzes se aproximem. Caso contrário, continuaremos a observar a chocagem de ovos de serpentes.

Há eleições, o Congresso se renova, muda o presidente e tudo permanece do mesmo jeito. Sai o governante que negava a necessidade das vacinas e entra um que nega a importância de quase todos os avanços conquistados pela sociedade brasileira fora das administrações petistas. Quer voltar atrás na autonomia do Banco Central, no rigor da lei das estatais e na regra para o teto do gasto público, na privatização da Eletrobrás e no marco do saneamento.

Lula e Bolsonaro se igualam na linguagem pobre, às vezes chula, e na insistência em falar sobre o que desconhecem. Nesse ponto, o atual já supera o antecessor. Tentar desacreditar os livros de economia, como fez recentemente para vender seus interesses políticos, merece o prêmio da categoria. Não o Nobel, mas o Ignóbil. 

E não era de se esperar que um presidente da república se igualasse ao crime organizado em sua sede de vingança contra o senador Sérgio Moro, porque ele, enquanto juiz ou ministro da justiça, tomou decisões que os desagradaram. Desnecessário.

Nem que tratasse o Banco Central como uma instituição personalista cujas decisões emanam de seu presidente. 

Agir assim é desconhecer a sua obrigação maior de guardião da moeda, sua responsabilidade na execução da política monetária e sua forma colegiada de tomar decisões.

Mais de cento e vinte dias de governo e o que temos até agora?

Uma transição espetaculosa, quase quarenta ministérios e nenhum plano de Governo. A gestão do Meio Ambiente, tão criticada no Governo anterior, só apresentou, até agora, o afundamento do Porta-aviões São Paulo, duramente criticado na imprensa internacional pelo risco de poluição, e o pior mês de fevereiro em termos de desmatamento. Sem qualquer explicação, justificativa ou desculpa oficial.

Na economia, as incertezas só aumentam com a indefinição sobre política fiscal, controle da dívida e as filigranas sobre se tal gasto é despesa ou investimento. Se não impactar negativamente na gestão governamental, tanto faz. Também não adianta eleger o mercado como inimigo público. Ele não é invenção da direita brasileira, mas uma entidade invisível que atua em todo o mundo, seja nos países capitalistas ou comunistas.

Dinheiro e investimento, há muito tempo, desconhecem fronteiras e se abrigam, sempre, onde for mais conveniente. Não dá para fugir dessa realidade. O que nos cabe, se houver alguma competência, é aproveitar as oportunidades externas e internas, estimular as nossas potencialidades e criar um ambiente de negócios que mereça a confiança dos investidores, seja daqui ou

de fora. Se não, qualquer política social será efêmera e todo ganho do trabalhador desvinculado da produtividade não subsiste. Só interessa a políticos demagógicos insistir no antagonismo entre capital e trabalho. O empresário não dá emprego, ele precisa do trabalhador e a união dos dois é que produz riquezas. Tudo isso parece muito óbvio, mas quase nunca aparece quando se discute as relações entre capital e trabalho. E os governos, historicamente, sempre preferiram tutelar as partes a promover um debate responsável sobre o assunto.

Ainda há tempo para uma guinada em direção ao futuro prometido na campanha eleitoral. Mas é preciso descer do palanque, pensar duas vezes antes de falar e começar a trabalhar.

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