Contra a reabertura precoce, empresários cobram posicionamento firme do governo

Um grupo de empresários contrários à reabertura precoce de bares, cafés, restaurantes e casas noturnas faz críticas à fl..

Um grupo de empresários contrários à reabertura precoce de bares, cafés, restaurantes e casas noturnas faz críticas à flexibilização das medidas de distanciamento social em Curitiba. Uma carta assinada por representantes de 22 estabelecimentos foi divulgada nesta quinta-feira (16).

Os empresários cobram medidas “mais enérgicas” das autoridades municipais e estaduais e pedem que sejam apresentadas ações de apoio ao setor durante e após a pandemia do coronavírus.

Nesta semana, a Prefeitura de Curitiba cedeu ao lobby da ACP (Associação Comercial do Paraná) e do Sindiabrabar (Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares de Curitiba) e estabeleceu uma norma para a reabertura do comércio.

A prefeitura não recomenda a reabertura das empresas que não exercem atividades essenciais. No entanto, não há nenhuma tipo de proibição para a maior parte do comércio. Apenas shoppings, centros comerciais e galerias estão impedidos de abrir as portas, conforme decreto estadual.

Os empresários que estão à frente de restaurantes, bares e casas noturnas afirmam que o desalinho das posturas adotadas pelo poder público e pelos sindicatos patronais têm dificultado a tomada de decisões.

Na carta divulgada nesta quinta-feira (16), o grupo também aponta que “a decisão de reabertura do comércio ignora, sob ponto de vista técnico, a proteção da população, dando vez à influência de forças econômicas e políticas, quando a prioridade deveria ser unicamente a saúde pública”.

DECISÃO DIFÍCIL, DIZEM EMPRESÁRIOS

Os empresários que assinam a carta de repúdio à reabertura precoce do comércio afirmam que, se há descaso do poder público, cabe à sociedade civil reagir.

“O meu bar está fechado desde o dia 27 de março e pra nós têm sido muito difícil saber qual é a decisão correta a ser tomada. Principalmente porque a prefeitura diz uma coisa, o governo do estado diz outra, os sindicatos patronais, outra”, relata Janaína Santos, dona do Cosmos G/astrobar.

Ela reconhece que a perda econômica é inevitável, mas afirma que a maior motivação neste momento é preservar vidas.

“A gente entende que manter o atendimento mínimo, por meio de delivery, ou atendimento não presencial, é a melhor forma que temos, por enquanto, de preservar vidas. O que a gente precisa é um socorro financeiro para bancar essa decisão. É uma decisão terrível, mas a gente tem certeza de que é a correta”, conta.

OMS: SEIS PASSOS ANTES DA FLEXIBILIZAÇÃO

O grupo que reúne donos de bares, cafés, restaurantes e casas noturnas de Curitiba argumenta que ainda não é o momento flexibilizar as medidas de contenção à disseminação do coronavírus.

Os empresários defendem essa posição com base na lista de critérios que os países devem adotar antes de suspender o isolamento, conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde):

  1. a transmissão da Covid-19 deve estar controlada
  2. o sistema de saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos, além de traçar todos os contatos
  3. os riscos de surtos devem estar minimizados em condições especiais, como instalações de saúde e casas de repouso
  4. medidas preventivas devem ser adotadas em locais de trabalho, escolas e outros lugares aonde seja essencial as pessoas irem
  5. os riscos de importação devem ser administrados
  6. as comunidades devem estar completamente educadas, engajadas e empoderadas para se ajustarem à nova norma

“Estamos pautados pela OMS. A gente acredita que ainda não chegou nesse momento para que as medidas de flexibilização sejam adotadas. Por isso, entendemos que ainda não é a hora de abrir as portas”, diz Janaína Santos.

“FALTA POSICIONAMENTO CONCRETO, FIRME E TRANSPARENTE”

Os empresários que atuam no ramo da gastronomia e do entretenimento cobram das autoridades um posicionamento consonante.

Janaína Santos comenta que, quando decidiu fechar o Cosmos, havia decretos da prefeitura, do governo e estadual e orientações do Ministério da Saúde que estabeleciam protocolos diferentes de distanciamento social. As informações sobre as medidas a serem tomadas e o período de duração eram conflitantes entre si.

“Essa dissonância de orientações, ordens e decretos tem sido muito complicada para nós, empresários, tomarmos uma decisão. Porque quando decidimos fechar as portas tem sido uma decisão quase isolada”, comenta Janaína.

Rafael Greca comentou o fato recentemente, em pronunciamento sobre o coronavírus. O prefeito de Curitiba afirmou que nunca houve ordem para o fechamento do comércio e que a decisão de fechar as portas foram dos próprios donos. Mas o posicionamento é confrontado pelos empresários.

“A gente precisa que essa decisão não seja autônoma, mas coletiva. Primeiro porque assim não atingimos os níveis de isolamento necessários, e segundo porque perdermos força para negociar a ajuda financeira que a gente precisa para preservar o maior número de vidas possível”, diz.

“Não somos nós, empresários, que devemos dizer o que é melhor para a vida das pessoas. E, sim, os órgãos de saúde, especialistas, pesquisadores da área médica, cientistas e entidades como a OMS”, completa.

Os empresários temem que quanto mais postergadas forem as medidas de mitigação, mais tempo vai demorar para a vida voltar ao normal. Eles apontam que a falta de um posicionamento enérgico gera prejuízos financeiros e enfraquece o setor na hora de negociar com fornecedores e credores.

“O que nós esperamos é que os governos e sindicatos adotem medidas transparentes e firmes, mas que sejam consonantes. Muitos são favoráveis ao fechamento e nós precisamos mostrar isso, mas a gente precisa que as medidas sejam claras. Não pode sobressair o discurso de que quem ‘quem fechou, fechou por conta própria’. A gente precisa que essa decisão seja coletiva e tomada o mais rápido possível”, completa.

empresários, bares, cafés, restaurantes, casas noturnas, distanciamento social, isolamento social, curitiba, rafael greca, prefeitura de curitiba, oms, sindiabrabar, greca Greca usou as redes sociais para pedir que pessoas fiquem em casa. Reabertura do comércio não-essencial não é recomendada. (Cassio Ferreira/SMCS)

“NÃO LIBEROU TUDO”, DIZ GRECA

O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, usou as redes sociais nesta quinta-feira (16) para reforçar o posicionamento da cidade:

  • Fique em casa
  • Evite aglomerações
  • Mantenha o distanciamento social
  • Isolamento social dos idosos e grupos de risco
  • Apenas comércios essenciais, preferencialmente, devem abrir as portas

“A vida não voltou ao normal. Deixo claro que Curitiba não está autorizando ou deixando de autorizar o funcionamento do comércio na cidade. Não liberou geral”, afirmou.

Os comércios essenciais são aqueles descritos no decreto municipal 470. Nesta quinta-feira (16), a prefeitura publicou uma nova resolução que estabelece normas de vigilância sanitárias para os estabelecimentos que estão em funcionamento na cidade. Confira a resolução completa aqui.

“Uma pandemia dessa magnitude está causando estragos econômicos e no cotidiano das pessoas no mundo inteiro. Precisamos trabalhar de forma responsável em busca das melhores soluções. A pandemia exige corresponsabilidade de todos”, defendeu Greca.