Colunas
DELÍRIOS DA ARTE EM VERTIGEM

DELÍRIOS DA ARTE EM VERTIGEM

Alceo RizziMuita gente dessa geração de atores e de outras áreas da arte que surgiuem alinhamento direto com o mo..

Pedro Ribeiro - quarta-feira, 15 de janeiro de 2020 - 17:28

Alceo Rizzi

Muita gente dessa geração de atores e de outras áreas da arte que surgiu

em alinhamento direto com o modelo sindical populista no poder, absorvendo

sua concepção e política de Cultura, e que hoje se julga predestinada a um

protagonismo dito progressista, não percebe, por deformação ou oportunismo, o

reducionismo intelectual do qual acabaram sendo as próprias vítimas.

O filme Democracia em Vertigem, pretenso documentário indicado ao Oscar, talvez não

seja o resultado único dessa constatação, embora dirigido por descendente de

uma das famílias de empreiteiros mais poderosa do País, em tese imunizada de

uma visão restrita e sectária pelo acesso ao amplo pensamento, pelas próprias

condições que o berço lhe concedeu.

As manifestações dessa espécie de síndrome cultural unilateral,

apaixonada, avessa ao contraditório e devota de um sectárismo e de um

proselitismo panfletário, dos qual muitos sequer se dão conta, se reproduziu e

se espalhou pelos escaninhos do Estado e também no que se convencionou

chamar de mídia, a imprensa com seus pequenos guetos.

Hoje em cenário de desvantagem, certo ou errado, não vem ao caso, em vez da reflexão necessária, acentua comportamento arrogante e soberbo, ainda mais convencidos da prática

a qual se acostumaram com um Estado então complacente e perdulário nos

financiamentos de uma arte que lhe era simpática e engajada.

A comodidade e os benefícios de um alinhamento parecem ter subtraído

dessa geração ao logo de mais de uma década a capacidade de discernimento

de entendimento de um Estado que não lhe seja provedor, e não lhe contradiga

como acontecia antes, por absoluta falta de necessidade. Querem a manutenção

do Estado Mecenas, mesmo aos seus proselitismos contraditórios e impositivos,

devotos de uma realidade que passou e não se deram conta, mas que

propositadamente ignoram na tentativa de resguardar intocáveis os espaço e as

condições de financiamentos de seu projetos e delírios.

O ator Wagner Moura, por exemplo, agora acusa como “a evidente

censura” do governo, através da Ancine, por não financiar a logística de

distribuição e o espaço do filme por ele protagonizado sobre Carlos Marighela,

guerrilheiro morto em confronto com forças policiais em governo do regime

militar. A diretora do filme indicado ao Oscar, declara que “é preciso resgatar o

Estado de Direito”, um delírio de quem não se dá conta que seu filme, como a

do ator baiano sobre Marighela, só foram possíveis pelos direitos plenos que o

País ainda mantem resguardados.

É a liberdade garantida por estes direitos que permite a opção e

manifestação do pensamento de ser esquerda, de direita, de independência

intelectual desamarrada de qualquer viés ideológico. Chulé não é defeito, diria o

poeta Zé Limeira: é da pessoa.

Avesso é fazer da arte e da exposição que ela permite, proselitismo raso e manipulador de uma realidade, seguindo a máxima de que se a sua tese pretendida a ela não se encaixa, que se se faça então com que ela se enquadre naquilo que você pretende. Não parece razoável!

Alceo Rizzi é jornalista, escritor e publicitário

Compartilhe