Garimpeiros se revoltam com alto valor para deixar terra yanomami

Pilotos de aviões e helicópteros estão exigindo R$ 15 mil por pessoa que deseja sair da Terra Indígena Yanomami.

Botijões jogados no meio da pista de terra, um tronco atravessado e muita reclamação. Um vídeo obtido pelo UOL mostra os garimpeiros revoltados com pilotos de aviões e helicópteros, que estão exigindo R$ 15 mil por pessoa que deseja sair da Terra Indígena Yanomami

O valor é cinco vezes mais que o cobrado antes da operação do governo federal. Sentindo-se explorados, os garimpeiros interditaram a pista do Jeremias, localizada na região da comunidade de Homoxi, no território yanomami, e prometem não deixar que nenhuma aeronave pouse até uma redução nos preços.

O local foi tomado por garimpeiros no ano passado. A pista não consta como homologada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que tem apenas a pista Iracema registrada na comunidade de Homoxi. 

Garimpeiros acusam pilotos de chantagem. Em mensagens de WhatsApp, os garimpeiros afirmam que estão muito vulneráveis por causa de subnutrição e malária. A inflação no preço dos voos é vista como uma chantagem por parte dos pilotos de avião e helicópteros com pessoas que correm risco de morrer se não deixarem a região.

O Cessna 182 Skylane é um dos aviões mais usados para transporte ilegal à terra yanomami e pode levar até quatro passageiros. Isto significa faturamento de R$ 60 mil por voo para o piloto. 

O acesso de aeronaves particulares na terra yanomami está fechado desde a semana passada. Na última segunda (6), porém, a FAB (Força Aérea Brasileira) abriu três corredores temporários para permitir o resgate dos garimpeiros.

Procurados pelo UOL para comentar sobre o controle desses voos, a FAB e a Anac ainda não responderam à reportagem. 

O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou ontem que o governo não sabe quantos garimpeiros estão deixando a terra yanomami, nem o local para onde estão indo. Segundo o chefe da pasta, a prioridade é a “questão humanitária” do povo indígena.

Perigosa, fuga via terrestre vira alternativa 

Segundo um garimpeiro informou ao UOL, um grupo de 50 homens decidiu fazer varação — travessia a pé, pela floresta — até Boa Vista, mas temia encontros indesejáveis com indígenas isolados, que também vivem na terra Yanomami. 

“No caminho por onde eles vão passar tem a Serra do Querosene, que é onde ficam aqueles índios isolados que hora ou outra têm conflitos com garimpeiro”, relata.

Outra mensagem relata a fuga de um garimpeiro pelo rio. Ele procura um companheiro para dividir os custos da parte terrestre da travessia. A saúde comprometida aparece na conversa por WhatsApp. 

“Já arrumei a canoa para ir hoje ou amanhã alguém pode me ajudar com um pouco para mim pagar a caminhonete até na cidade? Estou com muita malária”, escreveu o garimpeiro.