Avatar

 

Levantamento feito pelo Estadão, com base em dados da Serasa, mostra que a inadimplência no Brasil chegou na média do País 43,43% da população com mais de 18 anos de idade tinha deixado de pagar dívidas. É a marca recorde da série iniciada em novembro de 2016 pela Serasa, empresa especializada em informações financeiras.

Também o resultado é pior comparado a março de 2020, quando a pandemia mal tinha começado. Naquele mês, a fatia dos inadimplentes na população adulta era de 41,20%.

“Estados mais ligados ao setor de serviços, à indústria ou grandes centros urbanos estão em situação pior”, afirma o economista da Serasa e responsável pelo levantamento, Luiz Rabi. Em março de 2020, o Rio de Janeiro ocupava a sexta posição no ranking dos mais inadimplentes e hoje está na liderança, segundo o Estadão.

Enquanto o Rio de Janeiro está no topo da lista do calote, três Estados estão no polo oposto. Piauí com 36,67% da população adulta inadimplente, é o último do ranking, superando Santa Catarina (36,74%) e Maranhão (38,41%).

A principal variável que afeta a inadimplência é a renda”, afirma o economista. Foi exatamente a corrosão da renda pelo aumento da inflação, sobretudo dos preços de produtos e serviços ligados ao carro, que fez Renan Laurentino, de 35 anos, morador do bairro de Pechincha, Zona Oeste do Rio, ficar inadimplente.

Michael Burt, economista da LCA Consultores, lembra que desde o início da pandemia a inadimplência caiu para a mínima histórica porque houve uma grande renegociação de dívidas e a taxa básica de juros, a Selic, recuou para 2% ao ano. “Houve um alongamento da curva de dívida das famílias”, afirma.

 

Mas o calote começou a subir a partir do final de 2021 em razão da disparada da inflação. A alta de preços prejudicou principalmente as camadas de menor renda, como a enfermeira cearense, que conversou com a reportagem sob a condição de anonimato.

Rabi aponta que os benefícios sociais, tanto do governo federal como programas específicos dos Estados, como fator de peso para o bom desempenho da inadimplência. “Até o ano passado, Piauí e Maranhão eram Estados que porcentualmente mais recebiam os benefícios do Bolsa Família”, afirma.

De acordo levantamento da LCA Consultores, a partir de dados do Ministério do Desenvolvimento Social, em fevereiro deste ano, o Piauí foi a unidade da federação que mais recebeu Bolsa Família com parcela da população, 19,4%. Maranhão também figura entre os mais beneficiados, com 17,5%.

Burt, da LCA, acredita que o melhor desempenho da inadimplência do Piauí e do Maranhão também esteja ligado às maiores facilidades na renegociação de dívidas. Embora não tenha feito estudo a respeito, ele concorda com Rabi e intuitivamente acha que o benefício social deve ter tido impacto na renda da população.

Já os motivos que levaram Santa Catarina a estar bem no foto da inadimplência são a combinação da forte cadeia exportadora ligada ao agronegócio de carnes e aves, com renda média alta e uma taxa de desemprego que chega a ser a metade da média nacional. “Santa Catarina é a Suíça brasileira”, compara Rabi.

Para o economista da LCA, 43% dos brasileiros adultos estarem hoje inadimplentes é “muita coisa”. Isso porque, embora o endividamento tenha recuado nos últimos meses (30,8% em fevereiro, segundo o Banco Central), o patamar é elevado e comprometimento da renda das famílias com pagamento de juros está no pico da série do BC. “Tão cedo a inadimplência não deve se resolver”, afirma. (Leia reportagem completa no Estadão).