Mosquito transgênico contra dengue começa a ser vendido em Curitiba

Produzidos pela britânica Oxitec, os mosquitos são incapazes de reproduzir fêmeas e, ao serem soltos na natureza, ajudariam a controlar a população do inseto

Ovos de mosquito aedes aegypti modificados geneticamente para o combate à dengue estão à venda em Curitiba. A Vegoo, uma empresa de produtos exclusivamente veganos e vegetarianos, iniciou o cadastro dos clientes interessados em adquirir as caixas que podem gerar cerca de mil mosquitos machos – que não picam nem transmitem doenças. Produzidos pela britânica Oxitec, os mosquitos são incapazes de reproduzir fêmeas e, ao serem soltos na natureza, ajudariam a controlar a população do inseto, reduzindo o índice de transmissão de dengue, chikungunya e zika.

AEDES DO BEM

Para se chegar ao “Aedes do Bem”, como é comercializado, dois genes foram alterados. O primeiro é o tTAV. “Existe um recurso genético, uma característica autolimitante dentro das células dos insetos produzidos no laboratório. O macho produz uma proteína suficiente para crescer e chegar à vida adulta. A fêmea não. Dessa forma, ela não tem condições de crescer e virar um organismo adulto”, explica Luciana Medeiros, coordenadora de operações de campo dos programas de saúde na Oxitec e doutora em biologia funcional e molecular.

A ideia é que os mosquitos acasalem com as fêmeas selvagens, o que deve gerar somente outros indivíduos machos, já que a modificação não dá condições de sobrevivência às fêmeas. Dessa forma, a expectativa é que o número de fêmeas diminua no ambiente. O processo dura até dez gerações subsequentes de mosquitos.

PESQUISAS GENÉTICAS

Segundo Luciana, a geração atual dos mosquitos disponíveis para venda é resultado de 20 anos de pesquisa. Testes foram feitos em Jacobina, na Bahia, e Indaiatuba, em São Paulo, para mensurar a eficácia da tecnologia. “A gente conseguiu um pico de supressão de 96% em Indaiatuba. Ou seja: se quando começamos a espalhar os mosquitos modificados havia 100 mosquitos em uma área, no final, eram só quatro”.  

A venda dos mosquitos é feita em duas versões: uma menor, para a criação em casa, e outra para empresas e governos. No site da empresa, moradores dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais podem fazer a compra de uma caixinha por R$ 249. Na pré-venda em Curitiba, o valor promocional está em R$ 229.

Na prática, quem compra uma caixinha precisa apenas adicionar água para dar condições aos ovos eclodirem, o que acontece em cerca de 15 dias. Luciana garante que a caixa não tem abertura para entrada de fêmeas – que poderiam se aproveitar da água parada para pôr ovos. “A caixinha tem duas saídas laterais que foram projetadas para serem somente saídas, não permitem a entrada”. As modificações genéticas, segundo ela, também não causam impacto negativo à natureza. “Qualquer animal que se alimenta do Aedes do Bem, como sapos ou aves, não vai ter nenhum tipo de impacto na saúde dele. O antídoto não contamina recursos naturais, como rios ou águas de abastecimento da cidade”.

Segundo a empresa, o projeto tem aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTMBio), órgão responsável por autorizar “organismos geneticamente modificados”.