Carlos Strapazzon
(Arquivo: Agência Brasil)

Cada pessoa possui habilidades e oportunidades únicas para mudar e se desenvolver. As mudanças, no entanto, são processos difíceis. E a direção que tomam depende das experiências acumuladas, das influências do ambiente e de desejos muito pessoais.

No entanto, essa visão individualizada das mudanças nem sempre explica as transformações que afetam sociedades inteiras. Frequentemente, as sociedades passam por mudanças motivadas por razões completamente alheias às experiências, ambiente e desejos individuais. Muitas das mudanças mais significativas ocorrem sem aviso prévio, instalando-se silenciosamente, pegando a maioria das pessoas despreparada para lidar com as novidades.

O descompasso entre a mudança que chega e o nível de expectativas, de preparação e de desejos pessoais pode ser catastrófico em muitos casos. Exemplo disso é o caso da pandemia da Covid. Mas o caso das migrações coletivas por causa de oportunidades noutras regiões também ensinam.

Basta ver a grande transição da zona rural para a urbana, ocorrida no Brasil entre os anos 50 a 70 do século passado. Esta migração em busca de uma vida melhor nas capitais e em cidades maiores resultou no inchaço e na favelização das regiões metropolitanas do país, acumulando problemas socioeconômicos que persistem até hoje sem solução. Outra transição que nos surpreendeu foi a demográfica. A partir de 1950, o aumento populacional no Brasil foi impactante, trazendo desafios inesperados para o país.

Contudo, outros eventos podem desencadear mudanças profundas: catástrofes ambientais, crises econômicas, transformações tecnológicas e mudanças climáticas são grandes candidatos.

Na verdade, o mundo já tem um encontro marcado com a grande transição motivada pelas mudanças climáticas. Três datas já foram agendadas: 2030, 2050 e 2100. O trem partiu da estação em 2015 e, desde então, novas leis, políticas públicas, avaliações de riscos por empresas, mobilização de recursos financeiros por bancos e investidores, além de estatísticas especializadas por organismos internacionais, governos, bolsas de valores, agências de risco e mídia especializada têm surgido. Uma explosão de inovações está transformando nosso mundo. A viagem começou. Estamos a caminho.

Para facilitar a transição sustentável no Brasil, precisaremos contextualizar a educação escolar e também garantir que informações confiáveis circulem fora do ambiente acadêmico. A interpretação adequada de informações desempenha um papel fundamental na tomada de decisões, por isso é crucial desenvolver habilidades que permitam que mais pessoas tenham meios de reunir e interpretar informações confiáveis.

Além disso, promover o aprendizado informal e comunitário sobre práticas sustentáveis é fundamental. Isso inclui incentivar a troca de conhecimentos entre cidadãos em projetos sustentáveis práticos, abrangendo desde a partilha de práticas de consumo e reciclagem, de conservação de energia até a adoção de técnicas de produção sustentável de bens e serviços, bem de como práticas agrícolas e de uso do solo. Essa abordagem deve envolver famílias, empresas, municípios, estados e países.

Para acompanhar o progresso na adoção dessas práticas, também é necessário aprimorar os sistemas de avaliação contínua, de forma a auxiliar pessoas, empresas e governos a monitorar os avanços e riscos. E precisaremos de paciência, e de muita persistência. Mas isso tudo reunido tem o poder de criar ciclos contínuos de aprendizado que devem guiar nossas ações futuras, melhorando nossa jornada durante essa transição.

Longe de teorias complicadas, todos precisamos compreender melhor como aprender com mudanças em situações da vida real. E precisamos aprimorar a circulação de informação útil sobre essa grande transição baseada nas mudanças climáticas.  E que não vem só, pois estamos imersos numa colossal mudança tecnológica que está se espalhando por todos os lados. Precisamos aprimorar nosso modo de ver isso tudo com informações relevantes para o nosso cotidiano.

Nesta coluna vamos falar de transição sustentável que, além das preocupações ambientais, engloba também aspectos humanos, sociais, políticos e econômicos.

A coluna irá acompanhar as iniciativas de governos, empresariado e sociedade civil, explorando temas relacionados a políticas públicas, regulação, boas práticas e financiamento para a transição em direção a um desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável.

Especialmente, vamos nos concentrar na agenda regulatória e de financiamento da transição sustentável, servindo como uma referência para quem busca informações e análises críticas sobre instituições e desenvolvimento sustentável.

Meu nome é Carlos Luiz Strapazzon. Eu sou professor e pesquisador universitário na área do Direito, com mais de 10 anos de pesquisa em nível de mestrado e doutorado no campo da regulação do desenvolvimento social e do desenvolvimento sustentável. Sou Doutor em Direito (UFSC) com estágio de pós-doutorado na PUC-RS. Professor da Pós-Graduação em Direito (mestrado e doutorado) na UNOESC-SC e na graduação e mestrado da Universidade Positivo, PR. Autor de vários livros e artigos científicos, publicados no Brasil, Europa e América Latina.