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Professora da UFPR alega racismo após ser acusada de roubo em mercado de Curitiba

Professora da UFPR alega racismo após ser acusada de roubo em mercado de Curitiba

Uma professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), alega ter sido vítima de racismo por funcionários do Mercado Re..

Vinicius Cordeiro - segunda-feira, 9 de março de 2020 - 15:18

Uma professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), alega ter sido vítima de racismo por funcionários do Mercado Rei do Queijo, próximo ao Mercado Municipal, no Centro de Curitiba. O caso aconteceu no final da manhã do último sábado (7), 15 horas depois de ter sido homenageada na Câmara Municipal em uma sessão solene alusiva ao Dia Internacional da Mulher.

De acordo com o boletim de ocorrência, feito na tarde do sábado (7), Lucimar Rosa Dias, de 53 anos, foi abordada por três homens, dois deles usando uniforme do mercado, a duas quadras da loja. O trio a acusou de roubo e disse que acionaria a Guarda Municipal.

Ela mostrou a nota das compras para comprovar o pagamento, mas um dos homens alegou ter imagens gravadas do furto e questionou a presença de um cereal na sacola. Coagida, ela voltou ao estabelecimento, onde viu que não havia qualquer vídeo das suas compras. Ao alegar discriminação, teve o apoio de outros clientes do estabelecimento.

Além disso, o boletim relata que o gerente júnior do estabelecimento quis a abraçar e pediu desculpas “justificando que os funcionários tomam decisões erradas e que os proprietários eram morenos”.

Segundo a Polícia Civil do Paraná, o caso foi registrado na DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) e segue sob investigação. A expectativa é que o suspeito deve prestar depoimento da sua versão sobre o episódio nos próximos dias.

O Paraná Portal tenta contato com Lucimar, mas sua defesa diz que ela está “abalada” e que, por enquanto, não se pronunciará sobre o caso.

HOMENAGEM NA CÂMARA MUNICIPAL

Lucimar foi uma das mulheres homenageadas pela Câmara na noite da última sexta-feira. (Carlos Costa/CMC)

15 horas antes do incidente no mercado, Lucimar Rosa Dias foi homenageada na Câmara Municipal de Curitiba. A casa fez uma sessão solene em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo (8), e contou com a presença de 31 mulheres, indicadas pelas vereadoras, por se destacarem em diferentes setores da sociedade.

Lucimar foi uma das mulheres escolhidas pela Professora Josete (PT). Formada em Pedagogia e com doutorado pela pela USP (Universidade de São Paulo), ela dá aula na graduação e pós-graduação além de coordenar o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação para as Relações Étnico-Raciais da UFPR.

MERCADO DIZ QUE FUNCIONÁRIO ENVOLVIDO É AFRODESCENDENTE

Em nota, o mercado Rei do Queijo disse que a diretoria tomou conhecimento sobre os fatos ocorridos somente nesta segunda-feira (9) e alegou que empresa não compactua com qualquer tipo de preconceito e/ou discriminação.

Além disso, o estabelecimento de Curitiba diz estar averiguando as circunstâncias para municiar as autoridades competentes para que se esclareçam os fatos. Por fim, o Rei do Queijo ressalta que nunca sofreu qualquer tipo de acusação como essa e que “seus proprietários, bem como o funcionário envolvido são afrodescendentes”.

“Todos os funcionários são dotados de treinamento e orientações para gerir situações suspeitas envolvendo qualquer cliente. Entretanto, caso seja comprovada qualquer atitude que não tenha seguido os procedimentos e orientações da empresa, serão tomadas todas as medidas com os envolvidos, visando manter o relacionamento excepcional com seus clientes”, diz trecho da nota.

DEPARTAMENTOS DA UFPR MANIFESTAM APOIO À PROFESSORA

A Sipadi (Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade) saiu em defesa da professora Lucimar e afirmou que o fato reitera a prática usual de opressão às pessoas negras.

“O “racismo à brasileira” opera tanto nas relações interpessoais, quanto nas coletivas (…) A Superintendência – espaço que Lucimar Rosa Dias ajudou a construir – tem entre seus objetivos o acolhimento às vítimas de discriminação. A SIPAD manifesta todo apoio e se coloca a disposição para lhe dar suporte neste processo”.

Por fim, a PPGE (Programa de Pós-Graduação em Educação) da UFPR também prestou solidariedade.

“Temos muito orgulho de tê-la no nosso programa. O PPGE mantem-se firme na luta contra qualquer manifestação de racismo ou descriminação. Seguimos apoiando a luta antirracista que você tanto ajuda a imprimir. Sua luta é nossa luta”, diz trecho do texto.

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