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Negociação entre Rússia e Ucrânia segue sem avanço; Kremlin fala em ocupar cidades

Negociação entre Rússia e Ucrânia segue sem avanço; Kremlin fala em ocupar cidades

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou nesta segunda que a Rússia não descarta ocupar as principais cidades ucranianas

Igor Gielow - Folhapress - segunda-feira, 14 de março de 2022 - 13:16

As negociações para tentar pôr um fim à guerra da Rússia contra a Ucrânia recomeçaram nesta segunda-feira (14) sem avanços concretos, apesar da expectativa de autoridades dos dois países de que um acordo poderá ser alcançado ainda nesta semana.

Ao mesmo tempo, a Rússia sugeriu que poderá ocupar militarmente todos os “centros populacionais” principais do país vizinho, além de manter o ritmo intenso de ataques nos cercos que faz a cidades como Kiev, Kharkiv e Mariupol.

“Vamos fazer uma pausa técnica até amanhã [terça, 15] para seguir trabalhando nos subgrupos”, afirmou no Twitter Mikhailo Podoliak, principal assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Diferentemente de três encontros de delegações na Belarus e de uma frustrada cúpula diplomática entre os chanceleres na Turquia, a reunião desta segunda foi virtual.

Ela se deu após declarações inusualmente otimistas dos dois lados no domingo (13), prevendo algum tipo de arranjo além da questão dos corredores humanitários para “os próximos dias”, segundo o negociador russo Leonid Slutski.

Ao mesmo tempo, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou nesta segunda que a Rússia não descarta ocupar as principais cidades ucranianas.

“O Ministério da Defesa, enquanto garante o máximo de segurança para a população civil, não exclui a possibilidade de tomar os centros populacionais principais sob total controle”, disse.

Ele respondia a uma questão sobre a informação vazada por Washington de que a Rússia teria pedido ajuda militar e econômica para a China. “Não”, disse, afirmando que Moscou tem condições de tocar a guerra sozinha. Pequim também negou a hipótese, classificando-a de intriga americana.

O movimento de aumentar a pressão militar e acenar diplomaticamente faz sentido na visão do Kremlin, que retirou a derrubada do governo de Zelensky de sua retórica e, nas palavras do próprio Peskov na semana passada, enumerou suas condições para acabar com a guerra.

Os russos querem Kiev desmilitarizada, rejeitando adesão à Otan (aliança militar ocidental) ou à União Europeia e reconhecendo as áreas de maioria russa que já perdeu em 2014: a Crimeia anexada por Vladimir Putin e o Donbass declarado independente por Moscou.

Zelensky acenou positivamente à ideia de conversar sobre isso, mas depois voltou a assumir a postura de “luta até o fim” que tomou com o apoio ocidental, ainda que se queixe de que a Otan não entra na guerra a seu lado.

No domingo, essa equação ganhou contornos dramáticos com o ataque russo a um centro de treinamento e ligação entre forças ucranianas e ocidentais a 25 km da fronteira do país com a Polônia, o membro da Otan mais disposto a elevar o tom contra os russos até aqui. Temores de uma escalada que, no limite, poderia levar à Terceira Guerra Mundial, pautam essa discussão.

A frase de Peskov parece adicionar ameaça, e na prática as forças russas já estão redesenhando o mapa da Ucrânia. A certeza de uma insurgência e da continuidade das sanções mundiais contra Moscou, contudo, fazem crer que o Kremlin pode deixar Zelenski permanecer no poder se aceitar as condições impostas.

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